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Sustentabilidade. Desenvolvimento prometido a gerar falta de competitividade

Não podemos ter fatores de produção mais caros, que tenham em conta a dimensão humana e social, e permitir que países onde isso não é tema, possam competir connosco em igualdade de circunstâncias.

Não obstante o teor do título deste artigo, quero começar por afirmar que a sustentabilidade, o ESG, são caminhos obrigatórios para as empresas, para as pessoas, para o mundo. Não é opção pensarmos que podemos divergir deste caminho, destes objetivos e destes compromissos. E não…não é apenas por uma questão económica, é uma questão de sobrevivência. Como todos os processos de transformação, este também exige planeamento, transparência e acima de tudo, compromisso. Compromisso global, à escala do planeta, porque sem o todo, a parte será sempre insignificante.


A União Europeia criou uma quantidade significativa de legislação, para induzir os países e as empresas a implementarem o ESG, bem como critérios de sustentabilidade nos seus modelos de gestão. Isto é uma enorme oportunidade para todos porque a sustentabilidade tem valor económico, torna as empresas mais rentáveis do ponto de vista económico, mas também do ponto de vista social. A rentabilidade em perspetiva de hoje, tem uma nova dimensão que promete transformar a forma como vemos e interagimos uns com os outros, nas diversas camadas, com foco nas dimensões social e dos negócios. Hoje há uma dimensão humana na análise da atividade económica das empresas, que se traduz no impacto social e humano das suas políticas de governance. A dimensão humana da atividade empresarial passou, e bem, a ser vista como um ativo que terá sempre valor económico presente e futuro.


Até aqui está tudo certo. A questão é que tudo isto tem um custo, ou seja, pagar salários dignos não tem o mesmo valor económico do que pagar salários baixos. Garantir condições de trabalho que respeitem e valorizem o bem-estar dos trabalhadores, não tem o mesmo custo económico de ter trabalhadores a trabalharem doze ou mais horas por dia, sem direitos nem garantias. Ter estruturas de resposta social de apoio no país, tem um custo diferente de não a ter.

Aqui está a circunstância que condiciona tudo. Não podemos pensar num compromisso global, se não assumirmos de vez e de forma efetiva esse compromisso. De uma forma muito prática, não podemos querer ter fatores de produção mais caros nas empresas europeias, que tenham em conta, mais uma vez e bem, toda esta dimensão humana e social e depois permitirmos que países onde isso não é um tema, possam competir connosco, no nosso território, em igualdade de circunstâncias. O protecionismo europeu tem de ser muito maior, muito mais efetivo e eficiente. Hoje vemos imensas empresas portuguesas que têm unidades de produção em países daquele contexto, com custos de produção muito mais baixos, desde logo por não terem toda essa dimensão sócio humana imbuída nos seus processos produtivos, porque é a única possibilidade de competirem no mercado global.


Da mesma forma que não podemos ter empresas europeias, a comprar a esses países, alimentando esse ciclo de produção desigual e introduzindo-o nas dinâmicas de comércio europeu. Na verdade, o que se espera é que a Europa seja, também ela, um agente ativo de transformação, criando normas e requisitos para que se possa desenvolver atividades económicas aqui. Enquanto isto não for feito, estaremos a estimular a desigualdade e a falta de competitividade introduzida pela sustentabilidade. É o oposto do que queremos fazer, é o oposto do caminho que temos mesmo de seguir. A Europa tem o dever de ser um dos mais relevantes agentes ativos desta revolução industrial, tem de assumir a liderança do processo e ser o ponto de encontro do mundo nesta matéria.

Veja aqui a notícia.

16/11/2024